quarta-feira, 4 de março de 2015

Tentando reconfigurar a vida.


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Muitas vezes paro para pensar e digo em voz da alta mas que kct! Em meu linguajar de sangue italiano e português, dos parentes passados.

Mas veja bem como se é difícil tentar se reestruturar depois de uma quase morte, se bem que até hoje tenho contato com quem me socorreu, enfermeiros e pessoal da UTI onde passei umas temporadas e na cidade que sempre volto pois meus médicos são de lá. O sorriso de contentamento e incredulidade ainda estampa o rosto deles.
Me sinto em dívida.
Aliás sinto em dívida comigo mesma.

Fico relembrando que minhas piadas para disfarçar a gravidade daquela noite fatídica fez até o padre chorar,( depois falo sobre ele tadinho, o serviço social, a psicóloga, os enfermeiros da ala trataram de atender meu pedido que fosse me dado a unção dos enfermos ou extrema se necessária já que todos acreditavam que eu ia mesmo bater as botas)

Então lá estava eu estropiada, sem poder  andar, coluna com vértebra explodida, dores terríveis que nem a morfina dava conta, punho e mão separados ( quase) e ainda fazia graça de minha situação.

Penso que nem tive o prazer de sentir medo, de  ser normal, tive que desempenhar meu papel de conforto ao outro ou outros afinal só eu falava ali por pouco tempo o resto estava todos semi moribundos.

Será que é um castigo essa insana minha vida? estava tudo tão certinho, galgando sucessos, cidade e estado novo novamente e eis que sou cortada do jogo.

Fico fula mesmo.

Aliás é saudável tirar a frustração para fora.

As melhores coisas foram depois da quase morte e da cirurgia de 12 horas, depois de outra de 4 horas e litros de sangue novo aqui, eu ter feito amigos improváveis nos lugares que fiquei, todo mundo lutando. E a gente ria se divertia, os enfermeiros adoravam ficar ali com a gente.

Depois de um tempo ganhei uma cama nova hospitalar toda cheia de recursos e com controle e pude ficar mais altiva kkkkkk lembro que para ter direito a isso tive uma madrugada péssima que nunca vou esquecer na vida, e nunca esquecer também da dupla de enfermeiros que me ajudaram.

É meu anjo não tira férias, trabalha duro. 

Mas o que fico pensando é se eu tinha que estar ali mesmo, com essas pessoas pois parecia algo tão surreal que até hoje é um mistério.

Uma vez recebi um recado de uma senhora dessas que aparentemente veem coisas que a gente não sabe se acredita ou não rsss que eu era para ter morrido e que a coincidência foi a troca. Fiquei estarrecida, meu único tio vivo paterno idoso morreu meia hora depois de meu acidente, em um também acidente trágico) e eu queria ter o visto quando tinha viajado estranho.

E que fiquei segundo ela disse ok? Que tinha coisas a acertar e cumprir.

Ora veja só isso todo nós temos, mas fico pensando nisso pois nem sabia de nada, enfim chega.

Tenho que trabalhar esse corpo que é pesado, a cirurgia cortou de cima a baixo minhas costas e reconstruiu algumas coisas então sinto a musculatura o tempo todo, no punho e mão também.

Me arrasto, e muitas vezes até dou umas tentativas de correr, que no meu caso é andar rápido hahahha mas cansa, marido acha que devo dar fim logo na muleta e bengala que já não uso, ele tem receio que eu volte a usar por fraqueza, achar fácil.

Todo mundo espera algo de mim, tenho um livro da minha incrível história pra fazer ainda e terminar. Sei que vai ajudar muita gente, mas parei e as memórias estão fugindo, preciso voltar ao Hospital quando viajar e procurar os nomes certos de todos, e não esquecer do espaço tempo que ocorreu.
Todos tem interesse, na época até o próprio hospital e sei que vai ser muito divertido, porque sinceramente eu sei como ninguém vestir um personagem e jogar malabarismos, mas por dentro o palhaço sempre chorar escondido.


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